Cuidado com o CHEPALLA!!



Pode-se dizer que Aslam surpreendeu a todos ao seu redor, crescido na favela, mal tinha o primário e, em um dado momento, aproveitou a oportunidade e conseguiu um emprego em um banco do estado.

Casou-se com uma bancária, teve dois filhos, pode-se dizer que conseguiu chegar em um lugar que poucos imaginariam. “Como uma criança que corria atrás de pipa pra cima e para baixo, não queria estudar, teve tanta sorte?”. Rumores corriam pela favela que ele só podia ter feito algo para ter aquela situação.

Verdade, para quem não tinha praticamente o que comer em casa, chegar a ser funcionário do estado e casar-se com uma outra funcionária, era uma vitória improvável.

Aslam tinha vários hobbies, pipa, balão e fazer trilha, todos tinham lugar no seu coração, mas era com o capô do carro aberto e olhando um motor, que ele se sentia vivo.

Quis o destino que uma revista de automóveis famosa na época, chegasse em suas mãos e, lendo uma daquelas “Cartas do Leitor”, Aslam teve um sobressalto “É isso!!! É isso que eu quero fazer!”. No mesmo instante chamou seu filho mais velho: “Joaquim, olha isso!! O leitor transformou um chevette colocando motor de opala!! UM CHEPALLA!!!”.

Incrédulo, seu filho perguntou : “Mas o sr sabe fazer isso, pai?”, recebe a seguinte resposta “Se ele conseguiu, eu consigo!! Deve ser fácil”.

Joaquim sabia e não duvidava dos conhecimentos do seu pai, Joaquim já tinha desmontado motores, trocado velas, era praticamente um futuro mecânico, mas daí a acreditar em uma mudança radical de motores entre carros, já era um tanto demais.

Joaquim conta que, como Aslam já tinha um Chevette, a carta do leitor só deu um empurrão, e que empurrão. Passou um tempo, mas de repente, eis que surge dentro da garagem um Opala, não tinha faróis, não tinha freio, não tinha estofado, mas tinha motor!  “O que importa mesmo eu tenho, o motor! E está ótimo!”. Aslam estava radiante, estava cada vez mais próximo do CHEPALLA.

Uma manhã dessas de sábado, acordou seu filho mais velho: “Joaquim? Joaquim?”.  Joaquim, ainda sonolento, só era capaz de responder : “Hm??”. Ele prosseguiu “Preciso de uma ajuda na garagem!”.  

Os dois desceram e encontraram o opalão com capô aberto, chegando mais perto Joaquim entendeu, ou achou que entendeu. Encontrou uma corrente de cachorro e um caibro, passando por baixo da corrente.

“Vamos levantar rapidinho isso para tirar o motor do carro?”. Se puseram a levantar motor, o rapidinho se transformou em 4 tentativas, pois tinha sempre um cabo preso a algum lugar no carro.  Rosnados puderam ser ouvidos de longe, dores na coluna, ombro com problema, tudo se originou naquele momento.

Depois de tirar o motor, Aslam ainda disse, “Viu? Fácil!”. Joaquim não respondeu, só olhou com ódio e, claro, dor.

O fato ainda se repetiu no momento que tiraram o motor do Chevette,  colocaram o motor do Opala no Chevette e colocaram o motor do Chevette no Opala.

O que aconteceu? O carro pegou fogo em todas as tentativas, Aslam esqueceu que o extintor estava vencido e deu sorte de parentes estarem assistindo o desafio e ajudaram a apagar o incêndio.

Os dois tiveram que desfazer o que foi feito.

Contam que Aslam jogou a revista fora e nunca mais pensou em fazer nada parecido.

E Joaquim? Nunca mais quis saber de carro e, até hoje, sequer troca o óleo do carro dele, prefere pagar alguém.


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